terça-feira, 27 de abril de 2010

Capítulo 2

Capítulo 2


Para quem odeia até a palavra ciúme isso estava sendo uma tremenda covardia, um tremendo de um jogo sujo. Como esse ser humano que usara e abusara da minha companhia nesses dez anos podia estar ali me cutucando com o veneno do ciúme, como por cargas d’água podia estar me fazendo queimar por dentro por algo que eu sempre abominara? Que cruel esse menino mesquinho. Era como ter que tomar óleo de rícino e leite de magnésia tudo junto em um gole só.
- Então essa mudança não era mesmo gases, tem até nome.
Ele me olhou nos olhos, os olhos que eu achava conhecer tão bem (era só o começo).
- Gases? – Balançou a cabeça – Mary, eu conheci uma pessoa, desde então minha vida tem sido um inferno.
Reparou nessa parte? Olhe a ironia do destino, o Jorge estava vivendo um inferno ah ah ah! To podendo.
- Eu te amo Mary, nunca tenha dúvida disso e é exatamente por causa desse amor que estou sofrendo. Eu praticamente me apaixonei por uma cópia sua.
- Ah ah ah. – Agora em voz alta.
O desespero dele se intensificou e as palavras tão temidas e esperadas começaram a jorrar aos borbotões.
- Ela tem seu jeito, sua forma de se mover, ela parece muito com você, sei lá fui envolvido, ela é uma pessoa maravilhosa, tanto que eu gostaria que você a conhecesse. Eu tenho estado com ela, mas é ruim demais, só penso em você e...
Um clone? Ai, ai, ai. Jorge era um homem morto.
- Mary é você quem eu amo...
Amor... Falava em amor...
- Mary preciso da sua ajuda.
Pronto, murchei. Em segundos mudou tudo dentro de mim. Palavras mágicas pairando no ar... I need you!!!
- O que acontece Jorge?
- Eu não tenho dúvida sobre nosso amor, nem estou procurando ninguém, não preciso disso, mas algo nela moveu alguma coisa aqui dentro, como se eu a conhecesse de outros tempos. Um magnetismo, um encantamento, colocando em suas palavras, “algo mágico”. Você precisa conhecê-la para entender o que eu estou falando.
Como ele ousava? Ainda queria que eu a conhecesse? Estava abusando da sorte.
Magia?
O que o Jorge entendia sobre magia e...
- Sim Jorge vamos conhecer sua amiga...
- Maria Angélica.
- Sua amiga Maria Angélica. E o que rolou entre vocês além desse magnetismo?
- Apenas beijos e...
Ele queria morrer. Sol alto, fim de tarde gostosa e ele querendo morrer. Alguém me segura pelo amor de Deus.
- E...
- E mais nada. Muitos papos, troca de idéias.
Troca de salivas, aquilo na mão, mão naquilo. O lance de “chupar uns peitinhos”.
- Certo, mais alguém sabe disso?
Me senti uma terapeuta querendo saber os pormenores da vida alheia.
- Só o Grandão. Na verdade ele estava comigo no dia que a conheci.
Um cúmplice. Ah! Grandão que me aguardasse, bonachão sem vergonha, corrompidor de namorados perfeitos.
- Eu falei muito de você para ela, tanto que ela também quer lhe conhecer.
Ela também queria morrer, era isso ou a garota de nome Maria Angélica era – uma louca.
Bem, depois desse papo o Jorge pareceu relaxar, ficou em paz e eu confesso que o raio da praga do ciúme já não me corroia as entranhas como antes. Só pelo fato dele falar, assumir, justificar. Essa paz durou até o dia em que eu estava na casa dele, o Jorge mora com uma mãe megera e neste dia a mãe megera estava viajando. Gatos saem, ratos fazem a festa e... Atendem telefonemas na extensão...
Nosso amigo Luciano ligou e eu para zoar fiquei no raio da extensão, não costumo fazer isso, mas o Jorge também queria zoar, ambos nos demos muito mal, o Lu acabou assinando a sentença de morte do meu morcegão Jorge.
- E aí Jorjão, já conseguiu resolver o lance com a gostosura que você ta pegando? E aí estão se encontrando ainda?
Dizem que o que os ouvidos não ouvem o coração não sente? Era assim o raio do ditado? Sei que morri mil vezes por dentro, e há quem diga que segundos não são nada. Desliguei a extensão e obviamente o Luciano ouviu o clic.
- Era quem estou pensando? – Luciano perguntou já se borrando.
- Era. – Respondeu o Jorge envelhecendo uns dez anos.
Como os raios dos hormônios femininos são diferentes, eu envelheci mil anos, me sentei quieta com aquela dor crescendo. Pronto, se o Luciano sabia, quem mais sabia? Senti a testa pesar, já era a chifruda do ano. O casal perfeitinho tinha desmoronado. Que eca! Doeu mais que da primeira vez. Jorge desligou sem falar nada e veio até mim que bestamente entrei num pranto profundo. Estava indignada comigo, com ele, com o Luciano, com o Grandão cúmplice e com a vaca da Maria Angélica sem rosto. Caramba, como a vida da gente vira titica em questão de segundos. Dessa vez eu estava furiosa, doía tanto, me senti pequena, pouca, caída, sozinha, enganada, não queria que o Jorge tocasse em mim, lhe mandei sumir, desaparecer, lhe chamei de cafajeste, pilantra, traidor e tudo de ruim que pude me lembrar. Algo que tenho em mim como modo de vida é não ficar com quem não me ama, creio que ninguém nasceu para ser dono de ninguém e também não somos obrigados a ficar com quem não gostamos, sendo assim, posso amar, morrer de amores, mas me amo muito mais e nunca me deixei sofrer por quem não me queria mais do que o suficiente. Já cheguei a desistir de um grande amor por saber que ele me faria sofrer. Essa dor pode ser medonha, mas passa, já a infelicidade é algo que a gente carrega pela vida toda, como uma imensa bola de ferro grudada no tornozelo. Não admito vir para esse mundo mágico para ser infeliz por falta de amor de uma única pessoa. (Eu achava que isso era ser forte e digna, coitada de mim). Bem, e lá estava eu chorando pela traição do Jorge.
No fim conversamos muito e me acalmei.
- Então está decidido, não falo mais dessa garota para você, ok? Acabou, me perdoe, jamais imaginei um dia lhe fazer sofrer assim. Passou ok? Me perdoa?
Hum, hum e snif, snif. Odeio chorar.
- Quero ir para a minha casa, deitar na minha cama e dormir até o quanto eu puder.
- Ok, te levo.
O choro iria parar, a dor iria passar. Desde criança sempre achei o sono o melhor remédio, levava uma boa surra e nada como uma boa dormida para tudo sarar ao acordar. Penso assim até hoje. Mas, o Jorge quebrou a promessa de excluir a Maria Angélica sem rosto de sua boca. Estávamos numa festinha entre parentes e amigos e...
- E se apresentássemos a Maria Angélica para seu primo Diego?
- Maria Angélica, Diego. Sim seria...
O maldito Jorge já estava atravessando a sala em direção ao Diego e blá blá blá, lá ficou falando da tal Maria Angélica maravilhosa ainda sem rosto.
E não é que fomos?
Onde?
Na casa da tal Maria Angélica sem rosto, claro que o Diego não é bobo, ele e o Jorge nunca foram grandes amigos, como ele iria acreditar que a tal mina valia a pena? Ah, mas o Jorge asqueroso tinha uma foto da tal Maria Angélica sem rosto.
Entendeu direito? LEU DIREITO?
Ele tinha uma foto. Ai que ódio. As mãos começaram a suar, coçar, o corpo todo a pinicar, urticária até que... A foto da tal fantasma sem rosto caiu na minha mão.
- Ela... Ela... Era linda.
Uma coisa que sei e admito é quando vejo uma mulher bonita. A tal Maria Angélica era simplesmente um espetáculo de mulher, não tinha nada de parecido comigo e ainda era mais nova. Ah! Jorge seu pilantra mulherengo de uma figa.
- Quando nós vamos? – Perguntou Diogo.
- Bem, pode... – Gaguejei.
- Agora?
- É... Não. NÃO!!!
Estava louco aquele menino? Não se encontra uma inimiga linda, ladroa de namorado sem estar com cabelos escovados, com a roupa perfeita, espinhas encobertas, ainda mais um inimigo de rosto tão lindo e cabelos, ah os cabelos...
Stop baby!
Estavam querendo me enganar, era uma boa foto de book isso sim, ah aquilo ali era tudo camuflado.
- Hoje não posso, talvez.
- Amanhã?
Que galinha esse meu primo Diogo, uma bosta de uma foto de book já o havia encantado. Que tonto.
- Amanhã está bem para você Jorge?
- Se você quiser.
- Ok Diego, amanhã.
- No meu carro?
- Claro. No seu carro.
- Onde mesmo que ela mora?
Onde Judas perdeu os sapatos, as meias, a cueca e a carteira, afinal era um bairro da pesada, pudera, uma pessoa ladrona de namorado perfeito só podia se esconder entre os índios.


Obs.: Quero salientar queridas amigas que, foi um ó tudo isso, desconfiança, insegurança, medo, tudo junto e misturado, mas, nem mesmo eu sabia que conhecer a tal Maria Angélica iria mudar a minha vida definitivamente. Bjs... Mary

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Capítulo 1

Capítulo 1


Como qualquer garota fui apaixonada pelo garoto mais lindo da escola que não me dava bola e nem mesmo sabia que eu existia. Tive amigas maravilhosas e uma em especial Maria Luiza (somos amigas até os dias de hoje). A água e o vinho, eu geminiada desatenta e sonhadora, ela canceriana moralista e organizada.

Namorei muito, beijei muito e nunca fui ralada nos muros pelos garotos ah ah ah ah.

Meu pai numa alma de militar. Bravo, sisudo, honesto, responsável, o rei da família. Raramente ria (tinha receio de perder o respeito) e quando o fazia nós todos parávamos para vê-lo sorrir. Sou a mais velha de uma família de cinco irmãos.

Eu e minha amiga Maria Luiza planejávamos nos casar no mesmo dia, eu achava que minha mãe havia casado muito velha (23 anos) e queria casar aos 19 e já engravidar (como a vida dá voltas).

Minha amiga casou e fui sua madrinha. Meus amigos em geral se casaram e eu, bem eu conheci o Jorge.

E embora eu ainda sinta muita mágoa essa história não é dele e sim das "marias" que mudaram a minha vida assim como por ironia as mulheres da vida de Jorge mudaram totalmente a vida dele.

Eu curtia meu longo namoro que já durava dez anos com o Jorge, músicos, os eternos sonhadores da arte que fala diretamente ao coração. Ele baterista loiro de olhos azuis, eu a Maria comum, o casal “Peter Pan”, perfeito aos olhos de nossos amigos nunca iríamos amadurecer (nem casar, nem ter filhos... Ai, ai, ai) eu morava com minha família, dormia num quarto dividido com meus quatro irmãos. E apesar de pouco espaço lá estavam espalhadas minhas revistas, partituras, letras de música, cds, dvds (na verdade eram LPs e Fita Cassete ah ah ah) e muitos livros. Assunto de amantes só nos motéis. Adoro fazer hora na cama, e numa casa povoada é impossível curtir momentos de solidão. Adoraria poder ficar de pijamas até a hora que me desse na telha, mas, eu tinha que trabalhar. Entrar no chuveiro sem ninguém bater à porta um verdadeiro milagre.

Meu relacionamento com o Jorge? Classifico que éramos um casal liberal, não tínhamos ciúmes, palavra que procurávamos manter distante de nossos sentimentos. Mas, mulher é um bicho danado de terrível, sei lá, esse tal sexto sentido e esse lance de sangrar cinco dias por mês e não morrer deve nos dar um certo poder... Um faro, não sei o nome certo para esse “clic” que ascende quando algo está estranho, quando algo entra em curto. Chamo de mágica.

Pobres homens, se nem mesmo nós entendemos quem dirá eles... Ah ah ah!

O ponto é que o meu Jorge estava distante, chegava em casa e se estatelava no sofá, o namoro diante da TV começou a ser muito frequente ao menos para nós que nunca curtimos TV, meu morcegão estava mudando, algo estava acontecendo, claro que eu perguntava, sondava, mas ele me dizia que estava tudo bem.

Tudo bem uma ova, algo estava estranho, mas o que?

Dizem que o diabo mora nos detalhes e sei muito quanto a isso, sei identificar num gesto, num olhar, numa respiração, num cacoete os chamados sinais. Mas, até então as dúvidas moravam apenas na minha cabeça.


Foi quando fui visitar uma grande amiga com essa tormenta me corroendo as entranhas, falamos de tudo e de nada como sempre e no meio da algazarra de nossas conversas e gargalhadas desconexas vomitei:

- O Jorge está apaixonado por alguém.

Silêncio.

Tolas mulheres, tolas criaturas...

Caí no choro. Transformar um sentimento em palavra se torna algo tão grande, tão verdadeiro, por isso não entendo como pessoas podem dizer “te amo” como se dissessem “estou com fome”.

O que sai da boca se torna concreto, monumental, poderoso. Quando alguém ouve o que dizemos é como se o som de nossa voz contendo nossos segredos se propagasse e explodisse em mil partículas indo se alojar na mente do ouvinte e de lá se sabe Deus para onde vão, talvez se alojem no coração ou ficam na mente martelando num constante, isso até que essas informações novamente se transformem em palavras – muitas vezes adulteradas, pois nelas agora contém um pouco da outra pessoa, de seu raciocínio, sentimento, julgamento e de seu veneno – a verdade é que lá estava o meu medo, a minha angústia dando voltas no ar e minha amiga parecia ter engolido a seco o que eu havia dito, pois permaneceu ali de boca aberta no que pareceu uma eternidade, se levantou e me abraçou.

- Como assim Maria?

- Sei lá, é uma impressão, uma dor, um aviso. Algo mudou. Ou ele deixou de gostar de mim ou, sei lá, está a fim de alguém.

- Então são apenas conjecturas?

- Eu sei o que falo. Algo está errado. Algo nele está diferente, sua fisionomia sempre tão branda se modificou e não é problema de gases.

Rimos.

- Já sei, você está de TPM – Arriscou Maria da Glória.

- Não. E hoje nem é segunda-feira.

PAUSA: Isso é muito importante, eu não gosto de segundas, são medonhas, enfadonhas, neuróticas e agourentas, realmente detesto as segundas, o mundo vive com medo da tal sexta-feira 13 porque nunca se deram conta que vários problemas e desencontros acontecem exatamente numa segunda-feira (FIM DA PAUSA).

Não demorou muito e lá estava o Jorge me chamando, havia ido me buscar. Suspirei, joguei a dor para dentro e saí como se nada houvesse acontecido, eu era muito boa nisso e normalmente me ajudava muito. Hoje? É outra história.

Depois desse dia de desabafo com minha amiga Maria da Glória, destravou o raio da tramela da minha língua e passei a falar para quase todas minhas amigas. Já tinha uma legião de odiadoras da dita cuja sem nome que acabara de mudar para a minha mente tão calidamente fértil, mas, homens são homens e ponto final, de uma forma ou de outra acabam se traindo.

Os dias passaram e fui notando um nome novo nos comentários do Jorge.

Maria Angélica!

Alerta geral!

Cada situação parecia lembrar uma tal fulana, mas, uma fulana que eu nunca ouvira falar, em dez anos dá para conhecer até um estádio de futebol repleto de amigos e ex-namoradas. Ali naquele nome morava o perigo.

Antenas ligadas, sentidos aguçados, garras afiadas, dentes prontos a triturar... Credo! Já estava me sentindo uma lutadora de sumô... Ah ah ah.

- A Maria Angélica falou. - Porrada na cara.

- Essa música lembra que a Maria Angélica...

Puxão de cabelo. Mordida na orelha.

Acho que meu olhar disse tudo isso junto. Nossos olhos se encontraram.

- Maria preciso lhe falar sobre a Maria Angélica.

Fui a nocaute!

Prólogo

PRÓLOGO
Eu sou MARIA... Nasci num dia comum, num lar comum, para ter uma história de vida comum... Tem gente que é assim e não sou diferente. Classe média, pai pintor (de parede), mãe dona do lar, primogênita de cinco. Beleza comum, cabelos comum até demais... Estudei na periferia de uma cidade do interior de São Paulo conhecida como “Cidade Jóia”. Geminiana sem grandes planos para a vida. Meus amigos planejavam após a formatura trabalhar no banco da cidade, no correio da cidade, na escola da cidade, credoooo o que eu mais queria era sair daquela cidade... Me achava uma pessoa incrível e diferente, pronta pra fazer coisas diferentes, viver emoções únicas... Pobre de mim, não sabia que a vida mudaria tanto e que meus desejos seriam realizados... Hei! Muito cuidado com o que deseja... Esse Blog foi criado para contar minha história, esse é o meu e-book,
um livro verídico com páginas publicadas semanalmente...
Você vai se supreender com o que ainda vem no "BLOG DA MARIA"