segunda-feira, 17 de maio de 2010

Capítulo 6

Capítulo 6


Ah! Essa é a história das Marias.
Desculpe, me empolguei.

A dupla virou um trio e o trio virou uma legião, o Jorge vivia com seu carro lotado de mulheres. Por causa de nosso grupo de amigos e dos shows, estávamos sempre todos juntos. Nessa época eu acreditava mais profundamente em determinadas amizades, minha casa estava sempre cheia, meu ombro vivia encharcado pelas lágrimas das minhas “amigas”. Nessa época eu acreditava em sonhos, e sonhos são perigosos, nos consomem, nos faz acreditar em fantasias, nos levam para longe da realidade, temos que ter muito cuidado com o que pedimos, pois, os anjos ouvem e dizem amém, mas nem sempre estamos preparados para recebermos a grandeza dos nossos sonhos.
Acredita?
Creia! É a real.
Pois é, o nosso clube da Mariazinha estava formado.
Éramos sete. Número de mentiroso, por isso não durou.
A primeira – Maria Lúcia – era apaixonada e tinha um namoro de casa e separa que ninguém merece. Vivia chamando-o de inimigo. Ela separada recentemente e ele também.
A segunda – Maria Sueli – chorava pelo namorado que havia perdido, também viviam como cão e gato, literalmente, eram unhadas, mordidas e muitas lágrimas.
A terceira – Maria Vânia – havia saído de um relacionamento de sete anos entre tapas e beijos e estava curtindo a vida de solteira novamente.
A quarta – Maria Clara – morria de amores pelo meu primo Diego que acabou não levando o namoro em frente, era uma pessimista que eu vivia cheia de paciência para botar o raio do ânimo dela lá em cima, trazia a quinta – Maria Augusta - sua irmã não muito diferente. Ambas tinham perdido a mãe recentemente e como a mãe foi infeliz no casamento achavam todos os homens uns cafajestes, mas não queriam passar pela vida sem um desses cafajestes ao lado.
A Maria Angélica a sexta da “troup” ia ficando por ali.
E eu a sétima.
Ah! Elas morriam de ciúmes da Maria Angélica, todas sem exceção.
Eu nem ligava.
Adorava quando todas estávamos reunidas, nosso clube da Mariazinha era demais, riamos de tudo, falávamos de tudo, varávamos a madrugada matracando e quando o sol nascia nos rendíamos ao sono profundo.
Sinto saudades dessa época era tudo muito bom. Fizemos até uma “noite azul”, especial e mágica.
Eu acreditava em amizade de uma forma gostosa e ingênua.
A vida tratou de mudar tudo isso.
Inclusive tem uma letra do Cazuza interpretada pelo Ney Matogrosso que diz:
“De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa morna e ingênua que vai ficando no caminho”.

A primeira casou-se com o inimigo, e até hoje vivem um falso casamento, ele fingindo que a ama, mas a trai com quem passa pelo caminho e ela vive fingindo que acredita que ele é fiel.
A segunda acabou casando-se com o namorado e creio que são felizes até hoje, pois não tive mais notícias.
A terceira mal ficou solteira já se enfiou num relacionamento fracassado, não sei onde anda, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
A quarta desapareceu (com a quinta sua irmã) como um raio da minha vida, descartou minha amizade como se fosse banal após meu primo dar-lhe um fora, não conseguia viver no mesmo ambiente que ele, e sacrificou nossa amizade. Bem, eu achava que era amizade, hoje sei que era apenas uma espécie de vampirismo, sugou minha energia, meu carinho, meu bom-humor e minha paciência.
O tempo se encarrega de separar o joio do trigo, todas falavam da Maria Angélica e foi a única que ficou.
Ah! A amizade. Quantos versos, poemas, crônicas e histórias já lemos ao longo dos anos falando dos chamados “amigos”, algo raro, lindo. Tenho o privilégio de passar por essa vida e ter tido grandes amigos.
Mas, depois da Maria Angélica, eles ficaram pequenos. Eu a amava muito, era minha amiga, minha companheira, e era azarada a coitadinha.
É, não ria. Lembra do início que contei que ela perdeu um noivo depois de um acidente? Pois é, ele não morreu, mas o relacionamento sim.
Depois desse encontrou um outro, um tal de Gerson. Ele era a sua alma gêmea, em dois meses a Maria Angélica estava de quatro pelo cara, apaixonada, mas o cara depois de provar, usar e abusar resolveu que ia ser padre.
Hum, hum.
O infeliz se enclausurou num mosteiro e deu adeus a Maria Angélica que ficou chorando por ele tal como Flora chorou por Santo Agostinho. Já leu Vita Brevis de Jostein Gaarder? Não? Então leia. Uma mulher e tanto essa Flora.
Pois é, foi assim que a conheci. Coração despedaçado. Ela sempre procurando o seu grande amor e não o encontrando, só magoaram seu coração. Teve um que mal começou e a ex do infeliz apareceu grávida, quer mais? Um outro não tinha o que todas mulheres amam, bem ter tinha, mas, bem não vamos difamar o pobre por aqui.
Azarada minha amiga Maria Angélica.
Aí ela desencanou, tratou de se cuidar, cuidar do visual, já falei que ela era linda? Maria Angélica é e sempre será linda.
A amizade era nosso maior tesouro, como eu amava estar na presença da Maria Angélica, era mesmo um anjo em minha vida. O que estragava era o Jorge. Então um dia que estávamos no carro e como sempre ela no banco de trás, aí brinquei.
- Maria Angélica, qualquer dia vamos entrar num motel sem percebermos que você está no banco de trás de tanto que estamos acostumados com sua presença.
Rimos todos. E ela respondeu.
- Pior é se eu gostar da idéia.
A sorte estava lançada. E até os anjos disseram amém nessa hora.

Capítulo 5

Capítulo 5

Importante: Embora essa seja a história das “Marias” esse capítulo é dedicado ao que fui... Portanto, embora sei que algumas pessoas não gostem ou achem que estou me desviando do assunto principal essa parte da história é parte fundamental deste “Amor de Meninas”...

No auge dessa minha ansiedade em encontrar o “anjo dos meus sonhos” conheci o Beto de Roberto. Aqui no Brasil os nomes não têm quase serventia, somos todos conhecidos por nossos apelidos, diminutivo de nossos nomes, um tal de Rô, Ka, Lá, Pá... Blá, blá, blá... Encher lingüiça...rs.
Bem, o tal do Beto foi namorado de uma amiga que eu adorava, mas como ela namorava tudo que fosse do sexo masculino esperei ela cansar do Beto e o abocanhei. O danado do menino era bonitão, tocava violão e tinha um sorriso que iluminava a vida. Ah! Quantas vezes suspirei por aquele par de olhos verdes, mas o besta era um tremendo de um canalha. Não trabalhava, era cheio de piadas sarcásticas, colocava defeito em tudo o que eu vestia, olhava para outras meninas na rua descaradamente então acabei me tornando ao lado deste canalha uma pessoa que nunca quis ser. Todo meu brilho foi ofuscado na ânsia de agradar aquele miserável. Eu tinha somente quinze aninhos e o desgraçado surrupiava toda minha mesada.
E eu o amava.
Ele me dava bolos tremendos para sair por aí tocando violão nos barzinhos e botecos.
Eu chorava.
Vivi uma paixão louca e doentia, tinha ciúmes do vento, das meninas que moravam próximas a ele, tinha ciúmes até de suas roupas grudadas.
Pastava.
Mas, não dava pra ele. O que? Acha injusto? Era tudo o que eu tinha e que era só meu horas bolas.
Hoje o que mais gosto de lembrar é essa parte. O desgraçado do Beto não me comeu. Ah, ah, ah. Me fez chorar rios de lágrimas, mas não me comeu.
Eu pensava assim, se eu desse ele ia embora, então trancava a perseguida, beijava, abraçava e até seduzia, mas na hora “H”, travava as pernas. O canalha nunca teve o gostinho de ter uma noite comigo.
Tome besta.
Essa aqui você não vai contar para seus netos que ralou. Ah, ah, ah.
No fim corri tanto atrás do Beto que cansei. Eu já trabalhava no shopping, me lembro que o Beto tinha me dado um tremendo fora, desta vez resolvi agir diferente. Sai do trabalho e gastei todo meu salário num sobretudo pra lá de legal, num par de botas, numa mini-saia de couro, numa bolsa de couro, meia fina desenhada (era o maior sucesso), claro que tudo preto. Me produzi como uma “Mata Hari” você se lembra disso? Ai como sou velha...
Pois é me produzi com batom preto e tudo, fiz minhas irmãs fazerem uma escova nos meus longos cabelos e saímos, eu, irmã e primos, inclusive o Diego que já falei. Fomos comer pizza num lugar legal, claro que pertinho da espelunca que o Beto tocava. Depois da pizza chamei a galera para dançar e soquei os pobres naquele lugarzinho fedorento. Me lembro que o Beto estava agachado afinando o violão, próximo a ele uma loira desbotada sozinha na mesa, com certeza a vaca da vez. Parei bem na frente, ele olhou para os pés das botas lindas de couro que zerou minha conta bancária, foi subindo o olhar por minhas pernas de meia calça preta, passou pelas coxas dentro da mini saia (fala sério), subiu para o decote (tinha uns peitinhos pequenos, que dó) e parou no meu rosto maquiado, olhar sensual, boca preta de vamp (Tava me achando... ah ah ah).
- Oi Beto.
- Mary?
Dei as costas e fui sentar com a galera no andar de cima onde a música eletrônica rolava solta. Fui dançar, estava me sentindo a própria “Mulher Maravilha”, ah, não deu outra, logo o Beto subiu atrás de mim.
Adoroooooooooooooo ser mulher... ah ah ah.
- O que você está fazendo aqui?
Apontei para a minha galera.
- Viemos dançar um pouco.
- Você está linda.
- Obrigada, mas, não parece que pensa assim. Que horror Beto foi por essa espelunca que você me trocou? Por aquela loira desaguada que está lá embaixo? Beto você me trocou por uma garrafa de cerveja, um maço de cigarros... Bela troca você fez.
Pronto, arrasei. Dei as costas para o mocinho e fui dançar, logo nos cansamos da espelunca e fomos embora para casa. Foi a minha noite. Tudo o que eu queria era o que li nos olhos do Beto, admiração. Não deu outra, na segunda estava em casa implorando para voltar. Ficamos ainda uns meses juntos, mas cansei. Descobri que eu era muito para aquele monte de bosta de olhos verdes. O Beto? Ficou atrás de mim por mais oito anos, me cercando, me implorando, me querendo, na verdade querendo me comer, e não comeu ah ah ah. O Jorge uma vez teve o desprazer de ter que enxotar o Beto da minha vida, afinal conheci o Jorge naquele mesmo ano.
Bem, dei toda essa volta para dizer que eu tinha um sonho, eu queria um anjo e foi o pedido mais lindo que Deus me concedeu, colocou o Jorge no meu caminho.

AI ILUDIDA...

Perdão a volta toda que dei, essa história é das Marias... Essa história é de um profundo e sincero amor de meninas e chega de deixar esses canalhas em destaque... Vamos ao que realmente interessa... E, homem tem momentos que são despresíveis... Perdão aos coitados imcompreendidos ahahahah.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Capítulo 4

Capítulo 4

Começou tudo assim meio esquisito, igual quando iniciamos em emprego novo. Mas ela estava determinada, como a data do meu – do nosso –aniversário estava próxima, fiz a bobagem de marcarmos uma festa única.
Sim, eu sou doida de pedra. Quando criança cai de cara no chão e ficaram essas sequelas.
Preciso dizer que a festa foi uma gafe? Que me senti a chifruda mais aparecida dos últimos tempos? Ali a Maria Angélica mais linda do que nunca, colhendo suspiros de meus amigos e pragas de minhas amigas. As casadas agarraram seus maridos. As solteiras ficaram alertas. Me senti mal, muito mal. No fim da noite já queria deletar aquele ser humano do mundo.
- Você é louca, trazer essa mulher para cá.
- O que foi Mary? Está com algum problema que não quis me contar?
- O que pensa em deixar essa aí ficar assim tão próxima do Jorge?
- Trazendo o inimigo para dentro de casa? É uma boa estratégia.
Maria Vera a esposa do Grandão entrou em crise, achava que a tal Maria Angélica estava dando em cima dele.
Maria Suzi minha cunhadinha disse que eu era corajosa e louca.
Que fiasco. Queria sumir, desaparecer. Onde eu estava com a cabeça? Mas, ela estava ali e a responsabilidade era toda minha. O Jorge? Ah! O Jorge estava feliz, em paz, fez o papel de anfitrião muito bem. Que gafe. Que mico. Parece que foi a noite mais longa da minha vida.
Mas ela passou, os dias também passaram, e tentei esquecer a tal Maria Angélica.
Mas, ela não me esqueceu, e confesso, era uma companhia agradável, alguma das minhas amigas foram se afeiçoando a ela, é claro que algumas ainda achavam que eu estava fazendo um jogo do tipo “colocar o inimigo dentro de casa para ter controle”, isso não era verdade, eu confiava no Jorge, eu confiava nela.
Ninguém é dono de ninguém, se o Jorge com essa aproximação descobrisse que ela era a mulher da vida dele, que assim fosse. O importante era ser feliz. Odeio pássaros em gaiolas e o amor é assim livre para ir e vir, ele não pode ser aprisionado, confiscado, tomado. Ele vem por livre e espontânea vontade e fica o tempo que quiser ficar.
Que bom que o Jorge preferiu ficar.
A amizade fluiu de forma adorável, minha família adorava a Maria Angélica, sua presença em minha casa tornou-se natural, já havia até coisas dela espalhadas pela casa. Não tinha graça ir ao cinema sem ela, ao shopping então nem se fala, adorávamos ficar ali só olhando vitrines ou sentadas na praça de alimentação observando pessoas. Passei a ser recebida com naturalidade entre os familiares dela, naquela época a banda estava ainda deslanchando. Sempre estive envolvida em algo, nunca fiquei parada, estagnada e, arrastava a Maria Angélica para os meus shows, para as minhas loucuras, para os turbilhões de festas e diversões.
Eu havia ganhado uma nova amiga e o principal, ela era minha alma gêmea.
Com o tempo fui ouvindo frases aqui, frases ali.
- A Maria Angélica é uma gata, mas sei lá, não consigo paquerá-la, tenho a impressão que estou paquerando você – Meu irmão Rafael.
- Quem é essa garota no vídeo? É sua irmã? – Tia do Jorge
- Mary sua irmã está lhe esperando aqui embaixo – Porteiro do prédio.
Não éramos exatamente parecidas, mas havia algo que nos aproximava, algo que acentuava as semelhanças. Convidei-a para fazer parte da banda como back-vocal e passamos a nos vestir igual, realmente eu tinha que admitir éramos parecidas.
Ela não era tão atirada e despojada como eu, era tímida, mas possuía um sorriso que provocava um carisma alucinante.
Pronto, a minha amiga tinha virado cantora de banda de bar.
O Jorge? O baterista, dono de uma voz de barítono e tenor espetacular estava encantado, afinal Maria Angélica era um achado seu.
Aí pronto só faltava a garota fazer as malas e se mudar para casa, afinal, ela vivia mais conosco que com a família. O tal lugar de índio passou a ser um caminho familiar. Não importava a hora, íamos buscá-la, levá-la e a vida foi passando e a amizade se intensificando.
Aí você me pergunta e o Jorge?
O Jorge passou a me admirar muito mais, após colocá-la em nossas vidas passou a me olhar de um jeito diferente. Sei lá, um misto de admiração e orgulho.
E aqui vou lhe contar algo muito especial.
Sempre fui namoradeira, sempre gostei de beijar, me apaixonar, vivia me apaixonando e desapaixonando. Mas, na minha adolescência as coisas eram muito diferentes ou eu era diferente. Meus pais me deram bases sólidas, morais e bons costumes. O namoro era sim namoro, daqueles que saem de mãos dadas, beijinhos, festinhas com música romântica para dançar coladinho, não tinha aquele lance de amasso, passadas de mão, eu só queria beijar e quando um menino muito avançadinho não saia com os cinco dedos marcados na cara, saia fora, se o lance era azarar não era comigo.
Escrevam: NUNCA FUI RALADA NO MURO...
AH AH AH
Nisso perdi o que eu chamava de grande amor da minha vida, ele me achava muito certinha e não estava a fim de namoro em casa com pai e mãe olhando. Sofri, chorei, mas como sempre fui de bem com a vida, desencanei.
Lembro de ter feito uma oração a Deus muito sincera e muito profunda. Eu queria um anjo para a minha vida. Um cara que me fizesse rir, que me aceitasse do jeitinho que eu era, cheia de caras e bocas, gargalhadas espalhafatosas, brincalhona, palhaça e destrambelhada. Queria um cara que risse das minhas bobagens, que me olhasse por dentro e gostasse do que via. Não precisava ser bonito, rico, famoso, queria apenas que me amasse muito e que me fizesse feliz. Que gostasse de música, de luar, de sol, vento nos cabelos.
Lembro que vivia pela rua tentando achar esse tal desconhecido sem rosto. Achava que qualquer um que sorria para mim era o tal prometido. Cheguei a criar o tal na minha cabeça. Lhe dei um corpo, um nome “Márcio”, uma casa, um carro, naquela época – não ria – era o tal do Passat que estava na moda e imaginava o meu anjo num Passat vinho. Cada vez que um Passat vinho passava por mim eu esticava o pescoço tentando visualizar o meu anjo dentro dele.
Adorava dormir para inventar sonhos em minha cabeça... E criava poesias...
Então prestem atenção, eu sonhava com o príncipe encantado, sonhava com esposo e filhos, eu era o que voce ai do outro lado, foi ou é...
A vida da gente muda muito...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Capítulo 3

Capítulo 3


Chegou o grande dia, ou seja, o dia seguinte. Achei que a roupa estava uma droga, o cabelo não se ajeitava, a pele não ajudava, um verdadeiro horror. Céus, havia uma espinha. Nãooooo.
Mas, como não sou de fugir às responsabilidades, lá estava eu jogada no banco de trás, ouvindo o Jorge descrevendo a meiga Maria Angélica camuflada e bookmaníaca ao Diego todo interessado.
Afinal, meu consolo é que esses tais books fazem um milagre, tacam um reboco na cara da pessoa.
Hei! Tá rindo do que? Nunca fiz book, não mesmo. Depois de quase uma hora chegamos ao tal bairro indígena.
- Trave o carro Diego, aqui é um perigo.
- Que exagero Maria. Não é não, eu venho para cá todos os dias a trabalho.
Sim, trabalho, trabalho uma ova, vem catar mulherzinhas produzidas por books baratos.
Tocamos o raio da campanhia, e alguém saiu.
- Oi Jorge.
Os pelos da nuca estavam eriçados.
- Oi Maria Angêla, a Maria Angélica está?
O calhorda do Jorge já era conhecido pela família.
- Sim, vou chamá-la. Não quer entrar?
- Não, obrigada.
E o desalmado ainda se dava o direito de ficar desconfortável e sem graça. Sou uma ameba mesmo, o que euzinha estava fazendo ali àquela hora da noite atrás de uma inimiga bookmaníaca para o meu adorado primo Diego.
Enfim, ela saiu, e a família inteira também, meses depois fiquei sabendo que pensaram que eu tinha ido lá quebrar a cara dela, mal sabiam que estavam bem próximos da verdade. Na verdade mesmo, eu estava pensando que aquela era uma boa oportunidade para colocar meu orgulho de lado e ir caçar outro namorado bonitinho (um cara que se apaixona por um rosto de um book barato não pode ser perfeito), aquele estava perdido para todo o sempre.
Cumprimentos, beijinhos amistosos até chegar em mim.
- Oi, você é a Maria Rosa? O Jorge me falou muito de você.
Alguém me segure pelo amor de Deus, hoje eu parto a cara dessa...
- Oi.
Ela era linda. Simples, rosto lavado, sem maquiagem, sem roupa elegante, cabelos ao natural. Ela era linda e muito corajosa em estar assim cara a cara com o perigo.
Eles conversaram e papearam. Eu a observava pelo canto do olho, tentava minha melhor cara de indiferença.
Graças aos céus o Diego não se encantou. E eu?
Não senti nada. Nem raiva, nem inveja, ódio muito menos. Sou franca em dizer que eu adorei a tal Maria Angélica que tinha um rosto lindo e um sorriso encantador. Havia algo nela que se parecia com um reflexo que eu via todos os dias diante do espelho. Era bem mais jovem, mas algo naquela menina lembrou algo em mim mesma. Ela lembrava minha alma, meus desejos...
Heita mundo perdido, acho que eu estava perdendo o jeito. Se fosse em outra situação poderíamos até ser boas amigas.
Depois desse dia não fiquei mais com tanta raiva do Jorge, até que o safado do morcegão tinha bom gosto, afinal ele não havia mentido. Até o dia que.
“Piririm, piririm, piririm, alguém ligou pra mim”
- Alô.
- Maria Rosa por favor.
- Sou eu.
- Olá, eu sou a Maria Angélica. Lembra de mim?
Tinha que ser numa segunda-feira existe dia mais desagradável que a segunda?
- Quem?
Claro que me fiz de desentendida. Esse gostinho eu não iria dar para a tal.
- Sou a Maria Angélica, você esteve com o Jorge em casa.
- Ah! Claro. Maria... Angélica...
Como se eu pudesse esquecê-la.
- No que posso lhe ajudar?
Ah! Como são beneficiadas as pessoas que estão do outro lado da linha, quantos assassinatos aconteceriam se pudéssemos cruzar as linhas telefônicas como nos desenhos animados, essa tal Maria Bonitinha já estaria de olho roxo, deitada no chão com uma das minhas mãos se preparando para um novo ataque e a outra com dedos engalfinhados em seus cabelos perfeitos sem escova.
- O Jorge me falou muito de você.
Que catso, eu era assunto de amantes.
- E, eu gostaria de lhe falar, lhe ver pessoalmente e...
- Olhe, estou com o Jorge há dez anos e isso é um tempo considerável, não sei o que ele andou falando... (Dez anos cara, eu namorava esse infeliz há dez anos e nem me tocava).
- Ele te ama.
Silêncio.
- E me falou tanto de você, do jeito que você é que eu gostaria de lhe conhecer.
- Claro.
Meu Deus onde era mesmo a loja de armas mais próxima?
- Podemos marcar onde você preferir.
No cemitério.
- No shopping?
Chicote, sim um chicote “a la Indiana Jones” também serviria.
- Shopping? Claro.
- Ótimo.
Falei o dia e o horário. Ai ai ai, o que eu estava fazendo? Marcando um encontro com o inimigo. Maldita segunda-feira, um dia que não me deixava ganhar nem no joguinho besta de paciência do computador, quem diria um duelo. Como iria me encontrar com a tal inimiga bonitinha? Mas, fui. Adoro desafios.
Nos encontramos no shopping. Garotinha corajosa. Nos sentamos para conversar na praça de alimentação de forma civilizada.
- Sou toda ouvidos.

(Ridícula essa frase, não acha? Credo, um monte de orelhas grudadas em todo o corpo, eca! Que aberração. Mas, pior mesmo é a frase “você tirou as palavras da minha boca”. Que nojo imagine todas aquelas letras babadas, pingando saliva... ECA!!!).

Acredite se quiser... Neste dia a Maria Angélica bonitinha me conquistou. Começou contando de um noivado que tinha tido de seis anos, e que havia sido traída de uma forma medonha. O infeliz sofreu um acidente de carro desses para os jornais sanguinários fazerem a festa, e quando ela foi visitar o coitadinho todo quebrado, lá estava outras namoradas, no jornal o nome da namorada que estava com ele no carro em destaque, o bairro todo lendo aquilo, era pior do que boca em boca, ver seu chifre assim, distribuído em jornais por toda a cidade. Fiquei com pena dela.
Cachorro, safado, sem vergonha.
- Não quero fazer esse papel. Não quero desfazer o relacionamento de ninguém. O Jorge te ama e desde o primeiro momento que o conheci ele falou sobre você, e vi que eu estava sendo desonesta, quero lhe pedir perdão.
- Bem, é... Perdão, bem...
Caracas odeio que me deixem desconcertada e sem palavras. Logo eu, geminiana matraqueira, sem palavras. E diante do ini... De uma futura amiga.
- E, embora não tenha direito de fazê-lo, mas, gostaria de fazer um pedido.
- Pedido?
Que mulherzinha corajosa.
- Me deixe ser sua amiga, fazer parte da vida de vocês, adoraria ter uma amiga como você.
Como eu? Uma propensa assassina?
- Por que?
- Porque não tenho amigas, e parece que todas as pessoas te adoram. Todos querem estar perto de voce e eu sempre quis ter uma amiga assim.
- Claro. Por que não?
Está achando estranho? Acha que eu estou inventando? Mas é a mais pura verdade, a tal Maria Angélica (voce vai ficar enjoado de tanto ler esse nome) bonitinha estava ali na minha frente me pedindo para ser sua amiga.
E foi assim que iniciou nossa amizade. Imagine, eu tinha algumas amigas a quem havia derramado toda minha mágoa, destilado todo meu veneno, e em consequência a pobre Maria Angélica já possuía um exército de inimigas sem saber. Ah! Mas o mais interessante eu não falei, a Bonitinha apesar de ser mais nova havia nascido no mesmo dia que eu, pode? Será que era esse tal de alma gêmea que as pessoas falam tanto?

Nota: Pois é, me tornei amiga da tal Maria, e realmente gostei muito dela, pode parecer estranho, mas, foi exatamente assim que aconteceu, mas, uma amizade estava começando e o tempo se encarregou de botar seu tempero. Meninas, obrigada por me seguirem... Mary seja muito bem vinda...