Capítulo 6
Ah! Essa é a história das Marias.
Desculpe, me empolguei.
A dupla virou um trio e o trio virou uma legião, o Jorge vivia com seu carro lotado de mulheres. Por causa de nosso grupo de amigos e dos shows, estávamos sempre todos juntos. Nessa época eu acreditava mais profundamente em determinadas amizades, minha casa estava sempre cheia, meu ombro vivia encharcado pelas lágrimas das minhas “amigas”. Nessa época eu acreditava em sonhos, e sonhos são perigosos, nos consomem, nos faz acreditar em fantasias, nos levam para longe da realidade, temos que ter muito cuidado com o que pedimos, pois, os anjos ouvem e dizem amém, mas nem sempre estamos preparados para recebermos a grandeza dos nossos sonhos.
Acredita?
Creia! É a real.
Pois é, o nosso clube da Mariazinha estava formado.
Éramos sete. Número de mentiroso, por isso não durou.
A primeira – Maria Lúcia – era apaixonada e tinha um namoro de casa e separa que ninguém merece. Vivia chamando-o de inimigo. Ela separada recentemente e ele também.
A segunda – Maria Sueli – chorava pelo namorado que havia perdido, também viviam como cão e gato, literalmente, eram unhadas, mordidas e muitas lágrimas.
A terceira – Maria Vânia – havia saído de um relacionamento de sete anos entre tapas e beijos e estava curtindo a vida de solteira novamente.
A quarta – Maria Clara – morria de amores pelo meu primo Diego que acabou não levando o namoro em frente, era uma pessimista que eu vivia cheia de paciência para botar o raio do ânimo dela lá em cima, trazia a quinta – Maria Augusta - sua irmã não muito diferente. Ambas tinham perdido a mãe recentemente e como a mãe foi infeliz no casamento achavam todos os homens uns cafajestes, mas não queriam passar pela vida sem um desses cafajestes ao lado.
A Maria Angélica a sexta da “troup” ia ficando por ali.
E eu a sétima.
Ah! Elas morriam de ciúmes da Maria Angélica, todas sem exceção.
Eu nem ligava.
Adorava quando todas estávamos reunidas, nosso clube da Mariazinha era demais, riamos de tudo, falávamos de tudo, varávamos a madrugada matracando e quando o sol nascia nos rendíamos ao sono profundo.
Sinto saudades dessa época era tudo muito bom. Fizemos até uma “noite azul”, especial e mágica.
Eu acreditava em amizade de uma forma gostosa e ingênua.
A vida tratou de mudar tudo isso.
Inclusive tem uma letra do Cazuza interpretada pelo Ney Matogrosso que diz:
“De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa morna e ingênua que vai ficando no caminho”.
A primeira casou-se com o inimigo, e até hoje vivem um falso casamento, ele fingindo que a ama, mas a trai com quem passa pelo caminho e ela vive fingindo que acredita que ele é fiel.
A segunda acabou casando-se com o namorado e creio que são felizes até hoje, pois não tive mais notícias.
A terceira mal ficou solteira já se enfiou num relacionamento fracassado, não sei onde anda, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
A quarta desapareceu (com a quinta sua irmã) como um raio da minha vida, descartou minha amizade como se fosse banal após meu primo dar-lhe um fora, não conseguia viver no mesmo ambiente que ele, e sacrificou nossa amizade. Bem, eu achava que era amizade, hoje sei que era apenas uma espécie de vampirismo, sugou minha energia, meu carinho, meu bom-humor e minha paciência.
O tempo se encarrega de separar o joio do trigo, todas falavam da Maria Angélica e foi a única que ficou.
Ah! A amizade. Quantos versos, poemas, crônicas e histórias já lemos ao longo dos anos falando dos chamados “amigos”, algo raro, lindo. Tenho o privilégio de passar por essa vida e ter tido grandes amigos.
Mas, depois da Maria Angélica, eles ficaram pequenos. Eu a amava muito, era minha amiga, minha companheira, e era azarada a coitadinha.
É, não ria. Lembra do início que contei que ela perdeu um noivo depois de um acidente? Pois é, ele não morreu, mas o relacionamento sim.
Depois desse encontrou um outro, um tal de Gerson. Ele era a sua alma gêmea, em dois meses a Maria Angélica estava de quatro pelo cara, apaixonada, mas o cara depois de provar, usar e abusar resolveu que ia ser padre.
Hum, hum.
O infeliz se enclausurou num mosteiro e deu adeus a Maria Angélica que ficou chorando por ele tal como Flora chorou por Santo Agostinho. Já leu Vita Brevis de Jostein Gaarder? Não? Então leia. Uma mulher e tanto essa Flora.
Pois é, foi assim que a conheci. Coração despedaçado. Ela sempre procurando o seu grande amor e não o encontrando, só magoaram seu coração. Teve um que mal começou e a ex do infeliz apareceu grávida, quer mais? Um outro não tinha o que todas mulheres amam, bem ter tinha, mas, bem não vamos difamar o pobre por aqui.
Azarada minha amiga Maria Angélica.
Aí ela desencanou, tratou de se cuidar, cuidar do visual, já falei que ela era linda? Maria Angélica é e sempre será linda.
A amizade era nosso maior tesouro, como eu amava estar na presença da Maria Angélica, era mesmo um anjo em minha vida. O que estragava era o Jorge. Então um dia que estávamos no carro e como sempre ela no banco de trás, aí brinquei.
- Maria Angélica, qualquer dia vamos entrar num motel sem percebermos que você está no banco de trás de tanto que estamos acostumados com sua presença.
Rimos todos. E ela respondeu.
- Pior é se eu gostar da idéia.
A sorte estava lançada. E até os anjos disseram amém nessa hora.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
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Não dizem que é brincando que se falam as grandes verdades? Pois é, numa brincadeira descobrimos desejos íntimos...
ResponderExcluirDiante dos fatos, quem não diria " AMÉM" ???
ResponderExcluirAi ai ai !